terça-feira, 12 de março de 2013

Para refletir...


Como a família de um usuário de drogas absorveu a informação da morte possivelmente por overdose do ídolo de toda uma geração? Sim. Poderia ser seu filho. E muitas vezes é, e tantas outras será. Poderia ser seu pai também. Ou seu marido. Ou sua esposa. Ou sua irmã ou seu melhor amigo. Aquele cara encontrado no chão da cozinha é também aquele cara que convive com você e você nem faz idéia ser usuário de drogas. Ou portador de uma síndrome depressiva. Ou apenas um cara que não aguenta mais, que não consegue mais lidar consigo e com o mundo e simplesmente se desespera e perde o controle, ou simplesmente desiste. O cara que morreu no chão da cozinha não foi somente um ídolo de toda uma geração (a minha, inclusive). Não. Foi o cara que pega o elevador com você todos os dias. É o seu vizinho, é o seu primo mais próximo, é o seu melhor amigo. É sim o seu filho, e é também o seu pai.
É o filho e o pai do cara que o chama de vagabundo, que o chama de bandido.
Muitos acontecimentos marcaram os últimos dias. Julgamento do goleiro Bruno. Morte do cantor Chorão. Julgamento do caso Mércia. Morte de Hugo Chávez. Incêndio em Santa Maria. Renúncia do Papa Bento XVI. De tempos em tempos a sociedade recebe uma avalanche de informações, que parecem brotar de todos os cantos. Muito se fala nas redes sociais, na mídia e em todos os veículos de comunicação. Muito se discute, muito se descobre para, em seguida, as coisas se ajeitarem e a vida voltar ao normal, à espera do próximo acontecimento de comoção popular.
É comum encontrar pessoas se manifestando, tomando posições, divulgando suas opiniões, muitas vezes até estudando os casos a fundo para obter recursos para a discussão. Mas a dúvida que fica é: passado o período do "incômodo" que tais notícias trazem, o que se faz com todo esse material? De que forma se assimila tantas informações, tantas opiniões acerca dos assuntos populares? E mais... como utilizamos tais fatos como exemplos para a NOSSA vida? Como elaboramos tanta informação em prol do nosso crescimento? Como trazer os exemplos populares para o seu mundo, para o NOSSO mundo, aquele nosso mundo de idéias e sentimentos? Como transformar os exemplos populares em discussão e ensinamentos  dentro da sua própria casa, para os seus filhos, para os seus pais?
 
A sociedade é fruto E vítima da sociedade. Não foi o Chorão que morreu, foram todos os usuários de drogas. Foram muitas mães que choraram naquele caixão.
É e deve ser um assunto de discussão pública sim. Deve ser um alerta, um alerta para a sociedade. Deve ser um alerta para você! Não se brinca com a solidão. Não se brinca com a saúde mental. E sim: é possível perder o controle.

Não vamos entrar no mérito daquilo que parece ser grande demais para resolvermos. Vamos deixar um pouco de lado (embora não deva NUNCA ser esquecido) os governantes, a política, a sociedade, o que deveria ou não ser feito para evitar, para acolher, para cuidar dessas pessoas. Vamos pensar em nós. Em cada um. Como cada um absorve essas informações e transforma o seu próprio mundo a partir daqueles que sofrem e morrem para nos deixar, pelo menos, um esclarecimento sobre tais assuntos. Vamos pensar na nossa solidão. No nosso abandono. Nos nossos cuidados conosco. Nos nossos vícios, nas nossas formas de lidar com o nosso sofrimento. Vamos pensar a que ponto já chegamos muitas vezes, quando os problemas pareciam não ter saída. Vamos pensar no que sabemos que somos capazes de fazer quando perdemos o controle.
Vamos pensar na nossa família. Nos nossos amigos mais próximos.
Vamos ficar atentos a eles. Vamos abrir nossos olhos. Oferecer nossa ajuda, nosso apoio, nosso colo. Vamos cuidar das pessoas, vamos cuidar de nós. Vamos entender que cada um de nós somos bem capazes de fazer besteiras, porque cada um de nós já teve ou terá o seu minuto/hora/dia/mês/ano de desespero.
E basta ser humano para ser capaz de fazer besteira. E basta ser humano para saber resolver uma besteira. Muitas vezes, basta estar por perto, segurar a mão, dar um abraço. Eu diria que na grande maioria das vezes, basta estar ATENTO.
Basta aprender a pedir ajuda. Basta entender que ninguém consegue ser forte o suficiente, o tempo todo, sozinho.

...vou ter que discordar do Chorão quando ele diz que "o homem nasce e morre sozinho". Não é verdade. É apenas uma escolha. Uma péssima escolha, aliás... E que fique para nós essa semente... que essa seja para sempre uma péssima escolha...

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